Saturday, May 27, 2006

Insularidade

Açores, 2006
Há já uns dias que penso no conceito de "insularidade". Lado a lado com a humidade que se sente no ar, temos que lidar com ele nas mais variadas situações da nossa vida. Afinal, viver rodeados pelas belas e vastas águas do Oceano Atlântico tem muito que se lhe diga. Temos um governo autónomo (o que nem sempre é bom), produtos mais caros, viagens de avião a preços de ladrão (para não falar no facto de não termos acesso directo para a maioria dos destinos. E Bimba! Toca de juntar a viagem para lisboa às despesas das férias.), acesso restrito a eventos artisticos e culturais, etc, etc, etc... O verde da vegetação, o azul do mar, a beleza das lagoas, e a simplicidade das gentes... é tudo muito bonito e fica muito bem em qualquer spot publicitário, sim senhor! Mas, lá diz o povo "Entre o mar e a rocha, quem se lixa é o mexilhão".
Não é só a nivel da cultura, da politica, ou da economia que se verifica o peso da insularidade no viver açoreano. Esta também afecta um campo ainda mais importante: o das relações humanas. Quem é açoreano ou vive nos açores já se habituou às constantes "entradas" e "saídas" de pessoas no cenário da sua vida. Tudo é provisório, fugaz, passageiro... Passamos a vida a encontrar pessoas e a despedirmo-nos delas, como uma série televisiva de longa exibição em que o elenco é periodicamente renovado. Talvez por isso, o típico açoreano não tenha muita facilidade em abrir-se, em ganhar vínculos verdadeiramente fortes a nada ou a ninguém. A maioria habitua-se a encarar as coisas como elas são e adapta-se a isso. Afinal, num mercado de acções instável, para quê investir?
Eu sou açoreano e sempre vivi nos Açores. Também eu sinto a insularidade nos amigos que estão longe, nas peças de teatro que não vejo porque não são exibidas cá, ou na minha sobrinha que ainda não conheço porque vive em Lisboa. No entanto, não me considero tipicamente ilhéu nesse aspecto. Sou demasiado emotivo para isso (se calhar para meu próprio mal). Apego-me às pessoas e não me arrependo, mesmo que depois as veja partir. Para mim, a amizade nao se rege pela proximidade geográfica, pela frequência com que vemos as pessoas ou pela regularidade com que falamos com elas. Costumo dizer que os amigos e os membros da família são pedaços de mim, e é assim mesmo que sinto. Cada um deles, à sua maneira nos marca e molda. Cada um deles é um pouco responsável por aquilo que somos.
A todos vocês, meus amigos, em especial aos ausentes, dedico este post e o video que se segue. Faço minhas as palavras de Carrie Bradshaw.

2 Comments:

Blogger PIRII said...

Lindo post, Xiquim. Revi-me nas tuas palavras. Quando as pessoas vivem longe, geograficamente, mas conseguem retomar conversas, como se a distância nunca tivesse existido, é sinal de que estas pessoas já fazem uma parte quase integrante de cada uma, entre si. Na qualidade de umka das partes integrantes de ti, deixo-te aqui um especial abraço. (melhor aceitares... está em promoção!)

3:04 AM  
Blogger Tantra Lounge said...

Eu sou do "continente" e nunca vivi numa ilha. Ja visitei várias, desde a Madeira e os Açores a Inglaterra. O conceito não me agrada principalmente com as duas portuguesas porque numa coisa tens muita razão, o acesso a determinadas coisas é muito limitado apesar da exuberância nas paisagens que é incomparável. Gosto muito dos Açores e não suporto a Madeira. Talvez por uma visão romântica das coisas ou por ter ido mais vezes à Madeira e nunca ter gostado de lá estar nem me ter dado bem com nenhum madeirense, cá ou lá. Com os açoreanos já é diferente.
No entanto e, apesar de viver no Porto desde os 18 anos, continuo a sentir essa emoção de ver as pessoas entrarem e saírem nas nossas vidas, seja porque motivo for. Pode não ser a velocidade daí ou nem com os mesmos motivos mas acontece na mesma. Como já disse, nunca vivi numa ilha e não posso dizer que é a mesma coisa, mas a nível emocional tive de criar um desapego enorme para poder fazer o que o Pedrim disse no seu comment, que é manter a amizade, o amor, a ligação, mesmo a muitos quilómetros ou galões de água pelo meio. Quando quero fecho os olhos e vou ter com quem amo, toco quem amo e consigo, melhor ou pior, fazer a outra pessoa sentir o mesmo. Mudarmo-nos é a solução mais fácil mas, será a melhor? Pensei muitas vezes sair de Portugal mas resisti ao facilitismo. Se acho que as coisas estão mal, vou tentar mudar o meu mundo. Não o dos outros mas o meu. Já deu para perceber que tens visão é és uma pessoa culta. Transforma o teu mundo nos Açores e quem sabe um dia, estaremos todos com mais vontade de ser ilhéus que continentais.

6:03 AM  

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