O Homem é complicado. A personalidade de cada um é pincelada por um sem número de qualidades, defeitos e MANIAS. Oh sim! As manias! São elas que fazem de cada um de nós alguém único e exclusivo! Quem não se lembra de um certo rei inglês que tinha a mania de matar as esposas que já não lhes serviam? Ou do ditador alemão que cismou apurar a raça humana? Ou ainda o Imperador que quis, porque quis, incendiar Roma?
Parou! Silenciou!!! Ninguém se mexa! Sim, porque é precisamente aqui que eu entro na história. Não, como é óbvio, eu não tive nada a ver com incêndio em Roma. Não era eu que, deliciado, tocava harpa enquanto literalmente via “o circo pegar fogo”. A história que tenho para vos contar é bem mais recente e “doméstica”.
É verdade, a minha grande mania foi, é e será apenas uma só: brincar com o fogo. Por muito que ouvisse dizer que quem fizesse isso se arriscava a fazer xixi na cama, nunca dei ouvidos… sempre fui um bocadinho piromaníaco, sempre gostei de atear fogos às coisas, pronto… sempre fui um “chalasseiro”.
Certo dia, era eu menino para os meus dez, onze anos, peguei num frasco de amaciador Johnson (tô c’ma veri!) e pumba! Álcool lá para dentro! Em seguida peguei num fósforo (aceso, claro está) e deixei-o cair – assim como quem não quer a coisa- para o interior do frasco. Sei-vos dizer que à medida que aquilo me começa a aquecer nas mãos, pensei: “Oh! Que desagradável! (que eu desde “piqueno” que falo assim caro). Deixa-me mas é pôr isto debaixo de água.”
Se assim pensei, melhor o fiz: coloquei o dito (frasco!!) debaixo da água corrente da torneira. Pensando “Água apaga fogo.”, deixei o frasco em cima de uma mesa onde repousavam o cesto dos pinhos (palavra usada no Faial para designar as molas da roupa, ou “pregadeiras”, caso me esteja a ler algum amigo micaelense) e uma gaiola com um periquito Alexandre, estimado animal que é vivo até hoje (não sei como, mas enfim). Feito isto, fui à minha vida, que é mesmo assim.
Por esta altura devem estar a perguntar: “Então era só esta a história? Não acontece mais nada? Porra! O incêndio em Roma deve ter sido bem mais interessante! Mas quem é o Jaime e o que é que ele tem a ver com a trama toda!?”
Calma, ok? Irra que assim ninguém pode! A história não acaba aqui. Aliás, na realidade, ela está só a começar. Sim, porque vem aí “o horror, o drama” como já dizia ou outro!
Segue-se que, no meio da minha inocente brincadeira – até porque todo o assunto “fogo” já se me tinha varrido da “alembradura”- sou chamado ao conselho familiar, à presença da grande matriarca, de seu nome Maria de Fátima. E a pergunta não se fez esperar… Numa voz doce e meiga, própria de uma mãe que repreende os filhos, questionou:
- QUEM PÔS ISTO A ARDER AO LADO DA GAIOLA DA ALEXANDRA????
Bem, aquilo, como devem compreender, foi um autêntico balde de água fria… Não! Melhor: aquilo teve de tudo menos de água fria, já que agora era a minha cara que parecia estar pegando fogo, de tão vermelha e quente que estava. Mas, não me fiz rogado: sempre que a minha mãe insistia na pergunta eu respondia:
-Não sei! Só se foi o Jaime (note-se que o Jaime é o meu irmão mais novo).
Reparem aqueles que me estão a julgar neste momento: eu nunca disse “Foi o Jaime”. Não! Que horror! Isso seria descer à mais baixa condição humana… Nada disso. Eu apenas salientei a HIPOTESE de EVENTUALMENTE poder ter sido ele… Era uma possível solução para o mistério que a minha mãe devia considerar, ou não??? Seria justo eu ser o único suspeito, pelo simples facto de ter sido mesmo eu? Qualquer um tem o direito à sua defesa, meus amigos.
E foi assim que, no meio de um ping-pong de acusações e tentativas de defesa – o meu irmão continuava a negar, não sei bem porquê – consegui um feito admirável, raramente visto no seio do matriarcado Serpa: consegui sair ileso, livre, leve e solto! “Como?” - perguntam-me vocês…
Pois bem! Vencida pelo cansaço, a minha querida mãezinha rendeu-se, depôs as armas e lançou para a mesa (onde ainda há minutos atrás se encontrava a prova do crime) a proposta de paz que eu de bom grado abracei como se abraça uma bóia salva-vidas. E a proposta consistia em conceder o perdão àquele que se acusasse. Eu nem quis ouvir duas vezes!! Confessei logo, antes que ela se arrependesse! Ai não!!! Claro que a D. Maria de Fátima não perdeu a oportunidade de salientar que eu devia estar agradecido por ela ser uma mulher que honra o que promete. Obrigado mãezinha por seres assim!!!
Conclusão: Eu safei-me, a minha mãe descobriu o culpado, e o pássaro safou-se. A única vítima mortal foi mesmo o cesto dos pinhos, que nisto das guerras, mesmo que domésticas, há sempre baixas inocentes.
Este post é dedicado a três grandes amigos e ouvintes das minhas histórias: o Palim, o Pedrim e o Sérgim (in alfabetical order qué pa ninguém ficar chateado! lol)
PS- Cá está a foto do bicho que, por um triz, não passou de verde-alface a preto-churrasco.